A expressão "pelo menos" contribui para a cultura do conformismo, do mais ou menos. O marido agressivo, pelo menos, é um bom pai! Não deixa faltar nada em casa. Como assim? Falta o principal, amor. O operário sofreu um acidente, pelo menos, não morreu! Até parece que para ser grave tem que ser fatal. A empresa polui, explora os funcionários e os consumidores, pelo menos, gera empregos e contribui com impostos. A comida do restaurante não é boa, pelo menos é barata. Ser barata dispensa a qualidade. Os agrotóxicos envenenam outras culturas, as pessoas, a água e o meio ambiente, pelo menos, a safra é recorde, as exportações crescem e a balança comercial está em alta. Saúde, proteção, natureza é conversa pra boi dormir! O político rouba, o empresário sonega, pelo menos fazem alguma coisa.
Pelo menos é a clara aceitação do ineficiente, do errado, do enganoso, do duvidoso. O baixo grau de exigência se reflete na autoestima. Autoestima baixa é responsável por escolhas inconsistentes, pela aceitação de atitudes menores, de políticas reativas e de governantes despreparados.
É a geração "mais ou menos, pelo menos", incapaz de transformar a realidade. É aquela que vai à Europa e volta deslumbrada que lá todo mundo leva sacola retornável e respeita faixa de segurança. As cidades são limpas. As pessoas separam o lixo. Não jogam lixo no chão. Os locais históricos são protegidos e preservados, inclusive com proibição de fluxo de carros. No entanto, quando voltam, retornam às velhas atitudes. No supermercado, as frutas são embaladas em sacos plásticos e, como se não bastasse, depois em sacolas descartáveis, duas, de preferência, para ficar mais forte. Os mesmos que em um engarrafamento comem uma balinha ou acendem um cigarro para passar o tempo, e lá vai o lixo pela janela. Afinal, aquele é um lugar de passagem, e os resíduos são tão pequenos! O encantamento com a separação do lixo se perde com a desculpa de que não há local próximo à casa. Os contêineres de nossa cidade comprovam a afirmação. Alternativa implantada para reduzir o custo da coleta pública revela-se cada dia mais problemática, ineficiente e onerosa. E não são apenas os cidadãos que agem assim, as empresas, cujo gerenciamento é de sua responsabilidade, se valem do anonimato para, sem a menor cerimônia e constrangimento, mandar seus funcionários descartar os resíduos de postos de gasolinas, restaurantes, condomínios e outros estabelecimentos nos contêineres para resíduos urbanos. Uma voltinha na Avenida Medianeira comprova esse comportamento nada cidadão. Quem paga essa conta? Todos. Este é um dos motivos pelos quais a taxa para coleta de lixo, embutida no IPTU é insuficiente.
Cresce a "geração pelo menos", composta por pessoas mais ou menos que fazem e se contentam com pouco, mas posam de exigentes, responsáveis, bons exemplos, cidadãos defensores da moral e dos bons costumes. Pelo menos é pouco!